"Fingir é conhecer-se".
"O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente."
"Se depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus."
E como estava certo o grande mestre da poesia portuguesa pós- Camões.
Depois que a literatura descobriu Fernando Pessoa - ele por ele mesmo, e depois, todos os seus heterônimos, a poesia nunca mais foi a mesma. Nem eu.
Me recordo a primeira vez que li Tabacaria, por Álvaro de Campos. Foi como se um espírito tivesse lido a minha alma e impresso aquelas palavras sem o meu consentimento. Aquilo era meu.Foi escrito na minha mente e no meu coração por mim.A mim pertencia...
Imagino e sei que este mesmo impacto é causado no leitor que se deixa pegar distraído pela escrita deste gênio literário. Quem lê algum poema seu sem dar muito por ele, se vê repentinamente enredado por suas confissões , que são nossas confissões. Quem é que nunca teve a sensação de conhecer o seu amado Tejo, sem nunca tê-lo visto ?
E o que dizer sobre sua invenção de si mesmo, deixando-se invadir pelos outros eus?
O poeta é um homem que escreve. Não precisamos saber se seu nome é Álvaro de Campos, Ricardo Reis, Alberto Caeiro ou Bernardo Soares. Ou simplesmente ele-mesmo. O que importa é saber da autenticidade de sua poesia sob esses nomes.
Incrível mesmo é ele ter nascido sob a influência do signo do amor. No dia de Santo Antonio , cuja data é celebrada simultaneamete com a do dia dos namorados. Justo ele, um solitário pela vida afora.Mas não podemos dizer que ele não o ansiasse ou não soubesse falar de amor.
Para celebrarmos sua poesia, o dia do santo casamenteiro e a união dos eternos enamorados e românticos do mundo, eis um soneto seu que podemos supor ser uma ode às deusas do Olimpo, que mesmo imortais e divinas também ansiavam por uma mensagem calorosa ao pé do ouvido, uma mensagem platônica, pois que ele não conseguiu viver um grande amor na sua realidade solitária. Uma pena.
INTERVALO
Quem te disse ao ouvido esse segredo
que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só se é segregado?...
Quem to disse tão cedo?
Não fui eu, que não te ousei dizê-lo.
Não foi outro, porque o não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém,seria?
Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
que o supôs feito, porque o só fingi
em sonhos que nem sei?
Seja o que for, quem foi que levemente,
ao teu ouvido vagamente atento,
te falou desse amor em mim presente.
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente?
Foi um desejo que, sem corpo ou boca,
a teus ouvidos de eu sonhar-te disse
A frase eterna, imerecida e louca -
A que as deusas esperam da ledice
Com que o Olimpo se apouca.
Olá Andréa, bela homenagem a Fernando Pessoa...!!! Adoro Fernando Pessoa e seus heterônimos...:)
ResponderExcluirE claro... também gosto do Sto António... não fosse ele o padroeiro da minha aldeia...:)))
Bom domingo.
Beijos,
AA
Isso aqui 'tá' bonito e cheio de coisas que adoro: música e poesia! Mais um lugar querido para visitar!
ResponderExcluirAbraços,
Claudia
Adoro compartilhar.Volte sempre.
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