Poesia através de imagens.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Refazenda

Abacateiro acataremos teu ato

Nós também somos do mato como o pato e o leão

Aguardaremos brincaremos no regato

Até que nos tragam frutos teu amor, teu coração

Abacateiro teu recolhimento é justamente

O significado da palavra temporão

Enquanto o tempo não trouxer teu abacate

Amanhecerá tomate e anoitecerá mamão

Abacateiro sabes ao que estou me referindo

Porque todo tamarindo tem o seu agosto azedo

Cedo, antes que o janeiro doce manga venha ser também

Abacateiro serás meu parceiro solitário

Nesse itinerário da leveza pelo ar

Abacateiro saiba que na refazenda

Tu me ensinas a fazer renda que eu te ensino a namorar

Refazendo tudo

Refazenda

Refazenda toda

Guariroba


Quando eu era pré-adolescente ouvi Gilberto Gil no rádio com o sucesso "No, woman no cry"(não chores mais), uma versão brasileira para o sucesso de Bob Marley, e logo depois veio outro sucesso marcante," Realce", o que fez com que eu o colocasse no rol dos grandes compositores da nossa MPB, mas devo confessar que até então, nunca tinha pensado em comprar um LP dele (sim, eu sou daquela fase dinossáurica).

Até que um dia eu ouvi esta canção "Refazenda", e tudo nela me chamou a atenção. O ritmo vagaroso e envolvente, quase sensual e misterioso, a musicalidade silábica das palavras, o sotaque baiano e agudo de Gil, os versos rimados e poéticos compostos por um vocabulário quase impensado num ambiente em que as músicas são feitas para reflexão ou para romancear um caso de amor, ou para falar de situações concretas do cotidiano de alguém.

A matéria prima desta canção é a sua rústicidade primordial. Refazenda, fazenda, abacate, guariroba, mato, tempo...não há como não seguir no seu embalo e não nos situarmos no contexto pelo qual ele refigurou.

E como uma andarilha e em tempos pró ecologia, todas às vezes que me sinto acolhida pela natureza, no mato, na estrada, entre árvores, Refazenda vem a minha mente, quase como um mantra representativo do verde. Salve Gil!

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